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Os óculos de grau de José Renato Chiari se espatifaram no chão em uma cena envolvida por suas risadas. O motivo? Uma história engraçada contada e protagonizada por ele, que, ao gesticular, fez tudo voar pelos ares. "Se amarrarem minhas mãos, não falo nada!", comenta, e logo se recompõe com bom humor. Como passe de mágica, sua esposa, Rogéria, aparece com um novo par de óculos, ação capaz de retratar a parceria consolidada ao longo de muitos anos e que se estende de casa para os negócios.
Se há algo que o proprietário da ICH Agropastoril, localizada em Morrinhos/GO, sabe fazer bem é aplicar a intensidade da sua personalidade e a clareza do seu conhecimento em prol da família, do próximo, dos negócios e dos parceiros. Renato não precisa dos óculos para enxergar além do presente, pois sua mente antecipa o futuro. Com os braços abertos e as ideias livres, José Renato e sua família inauguram a nova etapa da vida ligada à pecuária leiteira ao consolidarem o grupo ICH Agropastoril.
A relação de José Renato Chiari com a pecuária leiteira teve início em 1984, quando ele se formou em Medicina Veterinária na UNESP, em Jaboticabal/SP. Especializou-se em reprodução animal e trabalhou na sua central de embriões até 2001. Foi nesse ano que, seguindo os passos do irmão, mudou-se com a família para o estado de Goiás. "Minha família veio comigo: minha esposa, Rogéria, que sempre trabalhou comigo, e meus filhos que ainda eram crianças naquela época - Felipe, que hoje é Médico Veterinário e assumiu a parte técnica do negócio, Camila, que trabalha na empresa, e Carol, que embora tenha seguido outro caminho como Médica, acompanha as mudanças na trajetória familiar".
Anteriormente, José Renato era prestador de serviços em grandes fazendas, sempre atuando na área de reprodução animal. Ao chegar em Morrinhos/GO, percebeu que teria que criar seu próprio negócio e se dedicar àquilo que sabia fazer. Foi então que passou a se dedicar integralmente à atividade leiteira. Gradualmente, o negócio expandiu-se e começou a demandar espaço considerável da parte agrícola, ainda em sociedade com o irmão. Foi natural, portanto, a separação das áreas e a dissolução da sociedade. O grupo ICH Agropastoril representa a continuidade da trajetória de sucesso de José Renato, reflete sua expertise na condução dos negócios e sua visão de futuro. "Temos toda a parte agrícola para produzir alimentos para os animais e nos dedicamos, ainda mais, à produção de leite, com nossos valores e princípios muito bem definidos".
O orgulho que José Renato tem das conquistas o remete à infância na pequena cidade de Analândia/ SP, ao sacrifício exigido para se dedicar aos estudos e à força da família que construiu. A transparência da história indica, também, o trajeto da sucessão familiar que se inicia. “Conheço todos os setores da fazenda, pois cresci envolvido nas atividades. Atualmente, me dedico cada vez mais às questões relacionadas à gestão. Meu pai é meu espelho. Tudo que sei aprendi com ele”, revela, emocionado, Felipe Chiari.
Confira aqui o vídeo que revela a história e os detalhes do trabalho na ICH Agropastoril
De olho no presente
A palavra que melhor define a ICH Agropastoril é integração. Para oferecer suporte à pecuária leiteira, a agricultura, ações de sustentabilidade e as pessoas envolvidas no processo produtivo são igualmente importantes. Segundo José Renato, "é apenas uma questão de tempo para que todos esses pilares estejam presentes em qualquer tipo de propriedade". Na ICH Agropastoril, a pecuária possui um diferencial: a coexistência do sistema de pastejo e do Compost Barn. Essa solução tem origem no conhecimento técnico e na paixão de José Renato pela reprodução animal, materializada no banco de embriões congelados que ele criou enquanto atuava como Médico Veterinário em São Paulo. “Há mais de 20 anos, ao iniciar meus negócios em Goiás, utilizei esses embriões para formar meu rebanho da raça Girolando”.
Um dos maiores desafios enfrentados pelo produtor de leite na região onde a fazenda está localizada é o estresse térmico dos animais. José Renato percebeu que poderia atuar nos dois principais fatores para resolver esse desafio: a escolha da raça adequada e a criação do ambiente ideal para os animais. Ele explica: "Decidi fazer diferente e trabalhar em ambos os lados da equação – além de escolher o sistema híbrido, a raça Girolando é a mais adequada a esse sistema. Focar apenas no ambiente não seria economicamente viável".
Assim, o Compost Barn está integrado ao sistema de pastejo: os animais passam o dia no confinamento, especialmente as primíparas, novilhas e vacas recém-paridas, e à noite são redirecionados para o sistema de pastejo. José Renato destaca que o sistema híbrido foi a solução encontrada, proporcionando custos mais baixos e maior conforto aos animais em ambos os sistemas.
Em relação à sustentabilidade, além do bem-estar proporcionado pelo confinamento no Compost Barn, a maior parte dos resíduos é incorporada à cama e posteriormente utilizada como adubo orgânico na agricultura. Isso permite o manejo racional dos resíduos e a substituição parcial da fertilização mineral. O último fator que justifica a integração na ICH Agropastoril está centrado na importância dada às pessoas envolvidas na atividade leiteira, desde a família até os colaboradores e parceiros. José Renato destaca que oferecem treinamento contínuo e estabelecem diálogo constante com os colaboradores. Ao selecionar parceiros e fornecedores, a qualidade e o preço são considerados, mas a assistência técnica é valorizada acima de tudo. Isso cria relações duradouras e garante que todos estejam sempre atualizados.
Olhar atento para a nutrição
Não falta gestão de custos na ICH Agropastoril. José Renato explica que 50% dos custos na produção de leite estão relacionados à alimentação. O sistema de pastejo desempenha papel crucial na redução desses custos, uma vez que o pasto é responsável por parcela significativa do alimento fornecido aos animais.
No entanto, ao colocar os animais no pasto, eles ficam expostos ao estresse térmico durante o dia, o que afeta negativamente seu desempenho. Ao contrário dos sistemas de confinamento, no sistema de pastejo, os animais gastam energia para se locomover, se alimentar, beber água, ir para a ordenha e voltar ao pasto. Além disso, o capim normalmente apresenta alto teor de proteína e baixo teor de energia, resultando em balanço energético negativo quando os animais são colocados nesse sistema.
Nesse cenário, a nutrição na ICH Agropastoril passa a ter maior importância para mitigar esses desafios. “Atualmente, além de produzir pasto, também produzimos silagem e queremos começar a produzir grãos. Essa verticalização é uma forma de reduzir custos, pois deixamos de comprar silagem e, no futuro, esperamos não precisar mais comprar grãos”, explica José Renato.
O objetivo é produzir o alimento necessário para os animais e transformá-lo completamente, o que permite reduzir custos, padronizar a produção e evitar problemas relacionado à estocagem. “A Agroceres Multimix desempenha papel importante na nutrição animal, já que fórmula os suplementos minerais necessários para o pasto e o confinamento. Essa fórmula é complexa, pois a nossa fazenda difere de fazendas convencionais, onde os animais confinados têm alimentação padronizada. Aqui, precisamos analisar o pasto em diferentes momentos, como durante a semeadura da aveia no inverno, que melhora a qualidade do pasto”, esclarece José Renato. De acordo com Juliane Teixeira, Consultora Técnico Comercial da Agroceres Multimix.
Segundo ela, os desafios que encontramos em termos de nutrição na ICH Agropastoril estão relacionados aos diferentes sistemas de produção adotados na fazenda. A complexidade reside nas transições entre as estações do ano e seu impacto na produção e na produtividade. A rentabilidade e o custo de produção variam em velocidade muito alta no sistema híbrido. Felipe explica que “em épocas em que o preço da soja está elevado, nosso sistema se torna excelente, pois temos nível elevado de proteína no pasto e podemos equilibrar a energia com o milho. Porém, essas condições podem mudar rapidamente. Quando o preço do leite sobe e o preço da soja cai, pode ser mais vantajoso produzir o leite com maior média de produção, mesmo que o custo por litro seja um pouco maior”.
Janela para o futuro
Na ICH Agropastoril, as vacas no pré-parto ficam alojadas em espaço especial monitorado por câmeras, dentro do Compost Barn. Felipe explica: "Anteriormente, tínhamos problemas com partos durante a noite no pasto. Atualmente, temos câmeras filmando, o que permite que todos tenham acesso às imagens, o que facilita o manejo".
Após o nascimento, as bezerras recebem colostro e, até os 10 dias de vida, recebem leite de transição em gaiolas suspensas. Depois disso, são levadas para o bezerreiro tropical, com capacidade para 250 animais, onde passam a receber 6 litros de leite em duas mamadas diárias, além de alimento volumoso, até os 45 dias. O leite é gradualmente reduzido até os 70 dias, quando as bezerras são desajeitadas, já alojadas em piquetes coletivos.
A interação entre humanos e animais nessa fase da vida é estimulada na ICH Agropastoril. Durante o aleitamento, é essencial fornecer estímulo tátil às bezerras, pois isso influencia o comportamento do animal e melhora sua resposta na fase de novilha, facilitando o manejo durante a ordenha. Isso ocorre, por exemplo, por meio da escovação realizada nas bezerras durante o aleitamento.
Resultados no tanque
As 725 vacas em lactação produzem 17.088 litros de leite por dia, por meio das três ordenhas realizadas na fazenda. Uma delas é menor, destinada às vacas pósparto imediato e às vacas Gir, que são doadoras. Uma segunda ordenha maior, com 24 postos duplos, realiza o processo duas vezes ao dia nos animais que estão no pasto e três vezes nos animais confinados. Há também uma ordenha dupla, com dez postos, que funciona no projeto anexo à fazenda.
O objetivo de proporcionar maior conforto aos animais, idealizado pelo sistema híbrido, gera condições para que expressem todo o potencial genético por meio da produtividade. E o potencial genético do rebanho é a fonte do maior orgulho da família Chiari.
No laboratório, a parte de genética de Girolando é ponto forte na fazenda e tem sido responsável por inúmeros prêmios derivados desse trabalho. “O nosso rebanho é muito diferenciado em termos de úbere, prumo, pernas, dentre outras características”, conta José Renato. Por ter animais com esses diferenciais, outro foco da ICH Agropastoril é a produção de touros. “A genética como um todo, levando em conta embriões e touros, representa 12% do faturamento do grupo. Temos 13% do mercado nacional de sêmen de Girolando”.
Sempre em frente
Com a infraestrutura existente, José Renato espera expandir a produção até os 800 animais. No entanto, o principal objetivo é a verticalização do negócio, ampliando o conceito de integração, o que envolve a ampliação da agricultura. Esse projeto envolveria, também, a adição de 1.000 vacas em lactação ao rebanho atual. Além disso, o desejo é criar diferenciais para o leite, buscando características que tornem a fazenda sustentável em todos os aspectos.
Além da certificação do leite A2, que é uma forte tendência, José Renato gostaria de produzir em sua propriedade um leite diferenciado, com valor agregado e que atenda às demandas do cliente do futuro, que valoriza a sustentabilidade. Ao considerar o futuro da fazenda, é imprescindível reconhecer a importância da genética e a continuidade desse trabalho. No grupo, esse setor desempenha um papel crucial e é compartilhado como uma paixão tanto pelo pai quanto pelo filho.
A sucessão aparece, nesse contexto, como assunto leve e pacificado. O olhar de José Renato para Felipe é de orgulho e confiança. O olhar de Felipe para o pai é de admiração e amor. Não é necessário usar óculos para perceber.
Texto: Adriana Vieira Ferreira – Equipe Revista Leite Integral
Fotos: Equipe Revista Leite Integral